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Vampiro - A Eternidade da Solidão, nasceu no Blog SM-Sem Mistério. Como nem todos gostam de ver Morceguinhos misturados com Fetiches, os blogs foram separados. Porém para quem é ligado em mais de um Fetiche, vai aqui o link direto para o SM Sem Mistério. Lembrando que trata-se de um espaço com conteúdo adulto (artigos fetichistas, filmes livros e trilhas sonoras pra baixar). Bom passeio virtual a todos.
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Fome de Viver


post 32
Manual Prático do Vampirismo (cont...)


O demônio está aqui

Eu estava tão absorto na narrativa do Dr. Paul René que levei algum tempo para relacionar o nome do frade dominicano que cuidadosamente ele reservara para o final, com o nome escrito na ficha padronizada de exames de sangue do L'Autrec Laboratoires. Então uma pergunta precipitada brotou em meus lábios: "Se é realmente a mesma pessoa como o senhor conseguiu localiza-lo?

"O Dr. Paul René descansou novamente durante alguns minutos e retomou a narrativa, não sem antes inspirar profundamente. "Pois bem. Durante o tempo de minhas pesquisas na Biblioteca Nacional de Munique eu fiquei hospedado na casa de seus pais e tentava por todas as maneiras ajuda-los a superar o desespero que o desaparecimento da filha lhes causava, sempre animando-os com novas esperanças. Até que um dia estava lendo alguns livros que tomara emprestados da biblioteca à noite em meu quarto, quando ouvi leves batidas na janela. Perguntei quem era e uma voz aflita respondeu "um amigo de Mata Ulm". Abri cuidadosamente e ele pediu para entrar. Sua aparência me inspirou confiança e ajudei-o a pular a janela. Ele sentou-se e depois de algum tempo começou a falar num tom preocupado e ansioso. "Meu nome é Wilhelm Lebenswald. Sou artista plástico e trabalho nos serviços de restauração dos afrescos da Catedral de Munique. Fui amigo de Karl Eschenmayer, o marido de Mata Ulm. Ambos éramos colegas de profissão e chegamos a fazer muitos trabalhos juntos. E juntos nos apaixonamos por Mata. Com o tempo, no entanto, a relação entre eles começou a degenerar e aspectos bastante terríveis começaram a tornar sombria toda nossa convivência. Karl, que era muito sensível, sempre se queixava das excentricidades e comportamentos imprevisíveis de Mata. Paralelamente evidenciava-se também um agravamento do estado de saúde dela. Os ataques epilépticos tornavam-se cada vez mais freqüentes e nessas ocasiões ela novamente forjava tentativas de suicídio nas quais sempre finalizava com uma gargalhada. Meu amigo, no entanto, era muito mais afetado pelo aspecto terrível que ela assumia nos estertores epilépticos, quando então se debatia e roncava como uma porca agonizante. Isso feria profundamente o sentimento estético dele... Até que ela veio a conhecer o misterioso padre Nicolas Jacquier e passou a tomar com ele aulas noturnas de francês na Catedral. Depois desse contato, as coisas pioraram bastante..."

Nesse momento eu o interrompi e resumi o que eu mesmo já sabia dos fatos, enquanto ele ia confirmando com a cabeça ou se horrorizando com o que não sabia. Pedi então que me contasse mais sobre Nicholas Jacquier. E ele recomeçou:

"Eu não cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Sabia quase tudo o que Mata poderia me contar pois ela era muito amiga minha e às vezes me tomava como confidente. Depois que Karl morreu e Mata Ulm desapareceu eu resolvi procurar pessoalmente o padre Nicholas. No entanto, devido aos seus hábitos extremamente singulares e furtivos, eu sabia que só poderia encontrá-lo em um dos confessionários, durante as confissões noturnas da Catedral. Esses confessionários são construídos de forma que o sacerdote pode entrar e sair deles por corredores ocultos, sem ser visto ou identificado. E no próprio diálogo confessional, o padre sempre escuta oculto nas sombras. Como eu trabalho na Catedral, tenho um certo acesso ao movimento interno dos que cuidam dela. Com cuidadosas observações pude concluir que o confessionário utilizado por Nicholas era exclusivo dele e eu sabia qual era, pois Mata Ulm havia me dito uma vez, ao narrar como eles se conheceram. Esperei então um dia em que estivessem pessoas se confessando e entrei na fila do referido confessionário, disposto a arriscar tudo para identificar o misterioso personagem. Ao ajoelhar no genuflexório, sua voz gutural perguntou por meu nome. Corajosa mas ingenuamente eu disse "Wilhelm Lebenswald". Imediatamente senti como se meus joelhos se colassem na madeira em que estavam apoiados e uma sonolência profunda passou a me turbar a consciência e a visão. Ouvi então a voz dele ironicamente martelar uma risada abafada, antes de dizer "Sua paixão Mata Ulm já subiu ao céu. Eu a purifiquei de todos os pecados, depois de acaricia-la profundamente com o Beijo da Santificação. Só resta dela uma caixinha com cinzas que guardo como recordação. Quanto a você; meu caro artista, já é um dos meus servos e passa desde agora a merecer todo o meu amor..." Neste exato momento ouvi o grito de uma mãe chamando pelo filho. O garoto, de pouco mais de um ano de idade, entrou correndo pela passagem do confessionário e trombou em minhas costas. Isso me livrou consideravelmente do transe hipnótico e tive a lucidez de levantar e sair correndo. Vim diretamente para cá. Caro Dr. Paul René, tenho que ser sucinto pois o tempo urge. Sou um homem condenado à morte e creio que o Senhor também! Existe uma rede enorme espalhada pelo mundo todo e que sustenta com todo tipo de cobertura essas e outras atividades terríveis e criminosas. A informação mais importante que posso lhe fornecer é que o padre Nicholas Jacquier é francês natural da região de Toulouse, onde periodicamente tem que ir para realizar rituais onde mistura a cinza dos corpos das pessoas que assassina com a terra dos cemitérios da cidade. Essas operações demoram vários dias e consegui saber muito pouco delas. No entanto, curiosamente o Senhor reside em Toulouse e bem poderia tentar neutralizar de uma vez por todas esse monstro." Então eu lhe disse que na manhã seguinte me retiraria de volta para cá, por motivos de segurança. Esclareci-lhe ainda que o "Beijo da Santificação" citado no confessionário pelo padre Nicholas era uma criação de Heinrick Kramer, um dos elaboradores do Malleus Maleficarum, por volta de 1484 e do papa Inocêncio VIII. Kramer se baseara em antiquíssimos rituais egípcios e o Beijo da Santificação consiste em arrancar todos os dentes da pessoa a ser canonizada (Esses dentes posteriormente farão parte de um colar-amuleto bastante utilizado um outros rituais). Em seguida o sacerdote oficiante suga diretamente diretamente o sangue que escorre da boca esfacelada, até se fartar. Então adota uma gaiola que envolve a cabeça da vítima como um capacete, contendo uma ratazana extremamente faminta, que completará o banquete ritualístico. Em seguida, o corpo ainda com vida deverá ser cremado até às cinzas. Que Deus receba Mata Ulm!

Dito isto, desejei-lhe boa sorte e pedi-lhe que se retirasse para que eu começasse a fazer minhas malas. Nunca mais o vi nem tive notícias dele. Quanto aos pais de Mata Ulm (sua mãe era minha tia legítima), vieram a falecer algum tempo depois num incêndio acidental em sua própria residência..."

Pausa....




BAIXANDO A TRILHA

Fome de Viver
(The Hunger - 1983)

Baixando o Disco




voltando ao manual ....


Similia Similibus Curantur

Nesse momento o Dr. Paul René deu um gemido abafado e apertou o próprio peito, contorcendo-se de dor. "Coração", pensei imediatamente e rapidamente tomei sua mão esquerda e apertei profundamente o ponto focal de energia situado entre o dedo polegar e indicador. Com a outra mão localizei imediatamente um dos pontos do fígado entre suas costelas e orientei-o na respiração e relaxamento. Aos poucos ele foi relaxando e a crise passou. Mas não aceitou minha sugestão de interrompermos a narrativa. Então pedi à Senhora Ana René diversos copos de cristal, um bastonete também de cristal que Dr. Paul deveria ter entre seus equipamentos e água. Tomei então uma gota de saliva dele e dinamizei-a cuidadosamente, conforme os processos das escolas tradicionais para casos de emergência. Em seguida, apliquei uma gota em cada olho do paciente. Dentro de algum tempo, ele já estava em condições de continuar mais confortavelmente.

"Tendo voltado para cá, retomei meus trabalhos rotineiros como médico, mas sempre pesquisando e procurando indícios que me dessem a certeza de uma pista para localizar o dominicano. Consegui, no entanto, informações preciosas que fui cuidadosamente arquivando e entreguei para o Senhor. Principalmente com relação à "Casas dos Vampiros", seus clubes mais importantes e seu fantástico e oculto duelo de poder. São longas dinastias, com ramificações espalhadas por todos os cantos da Terra... Na verdade, creio que esse frade dominicano pertença a uma rede secundária e hoje sem grande importância como potência política. A Igreja já não tem tanta influência no Ocidente como anteriormente. Meu caso com ele no entanto é bastante pessoal também, pois ele assassinou pessoas de minha família. Eu quero lhe passar todas essas informações e rogar a seu sentido humanístico que as divulgue ou faça delas alguma coisa de útil para a humanidade. Mas não peço que o Senhor vá arriscar sua vida disputando forças com essa fera poderosa, covarde e tão potentemente amarada e protegida.

Pois bem, estamos chegando à resposta de sua pergunta inicial de como consegui localiza-lo. Foi obra do acaso, se é que existe esse tal acaso... Eu vinha conversando com um colega pela Avenida Ludwig Worrell, quando a cerca de 15 metros à nossa frente uma jovem de corpo esguio saiu correndo da porta de um açougue. Simultaneamente ouvimos um grito de "Pega, ladrão". Para infelicidade dela, havia um guarda a pouca distância que dominou-a com grande facilidade. Aproximamo-nos então e o inusitado do ocorrido me deu a certeza de que finalmente eu havia encontrado uma pista segura. A jovem tentara roubar cálculos biliares de boi, do açougueiro. Esses cálculos são obtidos nos matadouros ou em açougues e servem para infusões e tratamentos de diversas doenças, além de amuletos. São parecidos com pedra-pomes, cinza escuro e muito leves, do tamanho de ovos de passarinhos. O açougueiro havia dito para a garota que os dele não eram para vender, depois de colocá-los sobre o balcão. Ela então os apanhou e tentou fugir.

Depois de algum entendimento com o guarda, dei-lhe a entender que a garota parecia doente mental e que eu cuidaria dela. O argumento que ela usou com relação aos cálculos era de que eram para o tratamento de um tio que estava de cama, muito doente há vários meses. Eu então lhe propus que só a libertaria do guarda se ela me levasse até o tio, para que eu pudesse ver o estado dele e quem sabe, ajudá-lo como médico. Ela não teve alternativa e nos levou até a casa do doente. Por motivo de segurança pedi ao meu amigo que esperasse do lado de fora e entrei com a garota. O casarão não era dos piores, mas a desordem no interior era bastante grande. Todas as janelas estavam fechadas e com cortinas negras e um insuportável cheiro de mofo e roupas sujas pairava no ambiente. No quarto do tio, ela entrou vagarosamente com uma pequena vela e me deu passagem para entrar também. O quadro me congelou a boca do estômago. No centro do quarto, em um catre dos mais estranhos que já vi estava o corpo de um homem de idade impossível de ser avaliada, pois qualquer dos referenciais que normalmente utilizamos para deduzir a idade, nele eram como os de um ser de outro planeta, que tanto pode ter 50 quanto 200 anos... É a única forma que encontro para expressar o que vi. Tentei comportar-me normalmente. Ele dormia profundamente. Quando a vista ficou mais acostumada à escuridão, pude constatar que ele trajava o hábito dos monges dominicanos. Tomei cuidadosamente seu pulso. Não pulsava. Então perguntei à jovem se ele estava vivo. Ela disse que sim, mas que ele havia desmaiado mais uma vez, pois estava extremamente enfraquecido.[5] Sugeri então a ela que eu necessitaria urgentemente de um exame de sangue dele e imediatamente abri minha maleta e coletei material suficiente. Tomei o bloco de pedidos e perguntei a ela o nome do tio. "Nicholas Jacquier", ela respondeu. No entanto, me espírito científico só teria certeza absoluta de que realmente se tratava do famigerado padre vampiro após o resultado do exame hematológico. Então pedi à garota que levasse o exame em seu laboratório, que entrega no mesmo dia e com o qual tenho convênio. Em seguida ela deveria trazer imediatamente em meu consultório o resultado. O resto você sabe, pois ela arrumou outra confusão ao pegar o exame. O que na verdade foi um incidente providencial que te trouxe até aqui. Fiquei no consultório, esperando que ela voltasse. Só que ela é uma das escravas do padre, seu nome é Sibila e não sabe tomar decisões sem consultá-lo. Como eu não lhe dei tempo de falar com ele (que só acorda à noite), ela desesperou-se e tentou me eliminar."Dito isto, o Dr. Paul René levantou a camisa e mostrou-me a barriga enfaixada e ensangüentada. Fora esfaqueado violentamente e não sabia se teria condições de resistir aos ferimentos. Poucos colegas seus sabiam da realidade dos fatos. E nenhum sabia da existência de um vampiro por traz de toda a trama. Ele perdera a grande oportunidade de acabar com a fera. Havia inclusive já preparado o material para empreender o trabalho quando Sibila voltasse com o exame. A tarefa é enormemente facilitada durante o dia, enquanto dormem e perdem as forças. À noite, no entanto, a coisa se complica bastante. Principalmente em noites de Lua Cheia. Em seguida o Dr. Paul pediu à esposa que buscasse o material que havia me prometido e ainda conversamos longamente sobre o conteúdo dos mesmos. Deu-me inclusive o endereço onde havia encontrado a besta humanóide, mas ambos sabíamos que sería inútil procurar novamente no mesmo local. Mesmo assim, eu iria para, quem sabe, encontrar algum indício. Fiquei distraído folheando os documentos, e em determinada altura resolvi fazer outra pergunta ao Dr. Paul. Quando ele não respondeu meu chamado, sua expressão suavemente sorridente e tranqüila me deu a certeza: estava morto. Do outro lado da cama, sua esposa fez um estranho sinal com uma das mãos apontando para o céu e a outra para a terra e deitou-se junto dele. Nesse momento, saí para tomar providências. O relógio marcava dez horas da manhã.


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1 comentários:

Anônimo disse...

eu queria ser eterno...
pq tenho medo de não exisrir céu ou inferno...
medo de só apagar e virar pó e ser esquecido .
meus sentimentos.
ass:matheus chiscce

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